segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Luciano Huck: No rumo

Como Ulisses em “A Odisseia”, nos últimos meses estive amarrado ao mastro, tentando escapar da sedução das sereias, cantando a pulmões plenos e por todos os lados, inclusive dentro de mim.

A tripulação, com seus ouvidos devidamente tapados com cera, esforçando-se em não deixar que eu me deixasse levar pelos sons dos chamados quase irresistíveis. São meus amores incondicionais. Meus pais, minha mulher, meus filhos, meus familiares e os amigos próximos que me querem bem.
Eles são unânimes: é fundamental o movimento de sair da proteção e do conforto das sel

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Eugênio Bucci: Todo o poder às celebridades?

Enquanto Luciano Huck avalia o risco, o Brasil sonha com um astro que purifique a política

*O Estado de São Paulo/Eugênio Bucci, Impresso



“O espetáculo é a outra face do dinheiro: o equivalente geral abstrato de todas as mercadorias”

Guy Debord, em A Sociedade do Espetáculo

À medida que se adensam as especulações em torno do nome do apresentador Luciano Huck para eventual candidatura à Presidência da República, as reações de políticos atestam que eles não entenderam nada. O sintoma que mais chamou a atenção foi a declaração do senador Aécio Neves. “Acho que é um pouco da falência da política”, diagnosticou o tucano. “É um pouco do momento de desgaste generalizado pelo qual passa a política.”

Não deixa de ser um alívio saber que o líder mineiro se preocupa de modo tão altruísta com assuntos falimentares e desgastes generalizados, mas sua declaração traduz, ainda que inadvertidamente, um preconceito arrogante. Por que, afinal, as pretensões eleitorais de um ídolo televisivo indicariam que a política “faliu”? Em que ponto a candidatura de um animador de auditório – de resto, muito rico – é pior do que a candidatura de uns e outros que ficaram bilionários com salário de deputado? Um garoto-propaganda de banco não tem o direito de, como dizem nos rincões mineiros, “entrar para a política”? Acaso estaria menos preparado que um fazendeiro, um sindicalista, um pastor evangélico ou ex-governador, como sugere a fala de Aécio?

domingo, 12 de novembro de 2017

Germano Martiniano: William Waack e as redes sociais

Minha primeira reação a ver o vídeo de William Waack dizendo, “preto, coisa de preto”, foi condená-lo, afinal um jornalista do seu porte não poderia dar uma brecha dessas. Depois, repensando o caso, conversando com amigos, lendo opiniões na internet, comecei a questionar o limite entre a vida pública e a vida privada, e como as redes sociais interferem neste processo. 




Para compreendermos melhor o caso de Waack precisamos, antes de tudo, definir algumas situações: piadas e expressões cotidianamente usadas em nossa vida PARTICULAR devem ser condenadas publicamente e passível de punições, como no caso do jornalista da Globo? Vamos aos argumentos possíveis:

1) Usando o caso de Waack, os que o condenam por racismo poderão dizer, “mesmo as piadas particulares ajudam a perpetuar, ainda que inconscientemente, um conceito de superioridade ou inferioridade de raça, que a acaba por se transferir para vida pública”.

2) Os que defendem não o comentário de Waack, porém que ele não seja execrado pela opinião pública e que não seja demitido pela Globo, podem afirmar, “mas, como iremos controlar o que cada pessoa diz em sua vida particular?”.

Precisamos analisar as possibilidades. No primeiro caso, o discurso de que piadas e expressões transferem para vida pública o pré-conceito tem fundamento, porém leva, inevitavelmente, para o segundo caso e o problema fica maior: definir o que é moralmente aceito ou não na vida particular das pessoas. 

O mundo atual, defensor ferrenho das liberdades individuais, neste caso de Waack discute: ele merece punição?  Se ele dissesse ao vivo, para o povo brasileiro, sim! Mas, ele disse em seu particular. Temos de convir, que ainda que discordemos do que as pessoas dizem na vida privada, como condená-las publicamente e exigir punições? Não seria querer estabelecer um padrão de comportamento que é paradoxal com o intuito das liberdades individuais?

Não se analisa aqui conteúdo em si, pois como dito Waack vacilou, estamos analisando a vida privada das pessoas, na qual cada cabeça é um universo que necessita ser respeitado, desde que o mesmo não cerceie a individualidade alheia e respeite as leis sociais. Ou seja, desde que palavras, piadas, expressões etc., não se tornem em atos públicos que irão reduzir os direitos de certos grupos sociais!

Redes Sociais

Com o advento dos “super-celulares” que todas as pessoas possuem e são capazes de registrar e investigar a vida alheia e também com o discurso do politicamente correto que impera nos dias atuais, o limite entre vida pública e privada está, cada vez mais, confuso. Se o mundo passar a ser um lugar de “detetives de plantão” com smartphones, teremos de julgar e condenar a maioria da população. 

Outro problema em se julgar situações a partir de vídeos, textos, fotos e áudios em redes sociais é que, na maioria das vezes, o contexto da situação que se espalhou é ignorado. A pessoa acusada é perseguida por um ato isolado sem que se análise sua vida no geral e até mesmo o fato originou a acusação. Sem falar nas edições de vídeos, imagens e áudios, nas quais se pode “planejar o crime perfeito”. 

Como disse a jornalista Lúcia Boldrini, citada em texto de Reinaldo Azevedo em defesa de Waack, “no dia em que os esfoladores conseguirem acabar também com o nosso sarcasmo privado, só sobrarão eles, os esfoladores”.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Alberto Aggio: O difícil e trabalhoso caminho até 2018

O núcleo central da política democrática está nas saídas para um país que se encontra afogado pela crise que nos deixou o PT e tem pouco a ver com o fato de estar ou ter apoiado o governo Temer.

Como refletir e desvendar o ponto central da conjuntura política que estamos vivendo? Essa pergunta, mais do que necessária, é o dilema político que vai impulsionar o batimento cardíaco da política, pelo menos até a definição das candidaturas para o embate de 2018.


É um equívoco imaginar que a campanha presidencial de 2018 irá ser travada em torno do governo Temer. A eleição presidencial não será um confronto entre situação e oposição ao governo federal. Lula imaginava que esse seria um trunfo seu e que lhe daria uma colheita segura. Certamente fará muita retórica desse ponto de força. Mas seu objetivo não é a avaliação do governo em si e sim a definição de um inimigo para lhe dar sustentação ao discurso salvacionista. Mesmo ele, como noticiam os jornais, já arriou a bandeira de derrubar

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Fernando Henrique Cardoso: Hora de decidir

Terá o PSDB cara renovada em 2018? Não precisa tingir os cabelos, mas a alma deve ser nova

Depois da segunda negação pela Câmara dos Deputados de abertura de inquérito para investigar o presidente da República, é de presumir que esse capítulo esteja encerrado. Independentemente do juízo sobre o acerto da decisão da Câmara, a opinião pública cansou-se do tema. As pesquisas parecem apontar nessa direção e indicam certo ceticismo quanto aos resultados da Lava Jato e de outras operações de investigação, que não obstante continuam a contar com o apoio da sociedade.