segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Entrevista com Claudio Oliveira

O humor é uma ferramenta para formação do espírito crítico da população, avalia Cláudio Oliveira
Por Germano Martiniano

O humor é uma característica do povo brasileiro, algumas expressões como o “Brasil é o país da piada pronta”, “Aqui tudo acaba em pizza”, “O brasileiro faz piada da própria tragédia” e outras são constantemente ouvidas no vocabulário popular. Hoje, com as redes sociais a quantidade de “memes”, conceito de imagens, vídeos e GIFs relacionados ao humor crescem a cada dia, ainda mais diante de um “prato cheio” como às eleições 2018.
Quem faz piada de nossa vida política, porém de maneira profissional, é o chargista Cláudio Oliveira, jornalista pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com especialização em artes gráficas na Escola Superior de Artes Industriais de Praga, República Tcheca e o entrevistado deste domingo da série FAP Entrevista. A entrevista faz parte da série publicada aos domingos pela FAP com intelectuais e personalidades políticas de todo o Brasil, com o objetivo de ampliar o debate em torno do principal tema deste ano: as eleições.
Com um humor inteligente e critico de nossa situação política, Cláudio procura através de suas charges passar ao povo brasileiro os perigos de figuras radicais que a direita ou à esquerda prometem soluções fáceis ao nosso país, porém sem compromisso real com a democracia. As charges são uma boa maneira politizar a população, avalia: “Acho o humor uma boa ferramenta para a formação do espírito crítico, importante para melhorar o mundo.”

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Entrevista com Maria Alice Rezende

“Não há propriamente uma partidarização do Judiciário e sim a ocupação de um vazio deixado pela fraqueza do sistema político no encaminhamento de soluções para a crise política e social do país”, diz Maria Alice Rezende

Por Germano Martiniano
Nesta segunda-feira (30) será lançado, no Rio de Janeiro, o livro “Diálogos gramscianos sobre o Brasil atual”, de Luiz Werneck Vianna, que é uma coletânea de entrevistas realizadas com o sociólogo desde o inicio do governo Lula, em 2003, até os dias atuais. O prefácio da obra ficou a cargo da também socióloga Maria Alice Rezende, a entrevistada deste deste domingo da série FAP Entrevista, que a Fundação Astrojildo Pereira está publicando, aos domingos, com intelectuais e personalidades políticas de todo o Brasil, tem o objetivo de ampliar o debate em torno do principal tema deste ano: as eleições.
Licenciada em História pela PUC do Rio de Janeiro (1975), Mestre em História Social pela UNICAMP (1983) e Doutora em Sociologia pelo IUPERJ, Maria Alice escreveu, em conjunto com Werneck Vianna, há vinte anos, o livro “Corpo e alma da magistratura brasileira”. Questionada na entrevista à FAP sobre o atual momento do judiciário brasileiro, ela foi enfática: “Não há propriamente uma partidarização do Judiciário e sim a ocupação de um vazio deixado pela fraqueza do sistema político”.

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Entrevista com Naura Schneider

Atriz e produtora de cinema, Naura Schneider avalia que, para haver uma sociedade mais igulatária em relação ao gênero, é necessário um processo educacional permanente que enfrente a questão
Por Germano Martiniano

Atualmente a violência contra as mulheres no Brasil está presente em todas as classes sociais e regiões brasileiras, não se restringindo apenas a agressão física, mas também ao assédio, pornografia, desigualdade de salários e funções, entre outros tipos.  Recém-nomeada diretora da Secretaria de Políticas para Mulheres do Ministério dos Direitos Humanos, a atriz e produtora de cinema Naura Shneider trata desses temas na entrevista da semana da FAP Entrevista, série que a Fundação Astrojildo Pereira está publicando, aos domingos, com intelectuais e personalidades políticas de todo o Brasil, tem o objetivo de ampliar o debate em torno do principal tema deste ano: as eleições.
Formada em jornalismo, Naura atuou por muito tempo como atriz da TV Globo, onde fez novelas de sucesso como O Clone (2002), Mulheres Apaixonadas (2003) e Senhora do Destino (2004). No cinema, seu último trabalho foi no longa Vidas Partidas (2016), mas já havia produzido os documentários Flores de Pilão e Silêncio das Inocentes. Todos estes trabalhos abordaram a questão da violência contra a mulher e do empoderamento feminino.
Para a atriz, a melhor forma de se combater este tipo de violência e alcançar uma sociedade mais igualitária na questão de gênero é por meio da educação. “A Educação é fundamental para uma solução consistente e permanente”, acredita Naura.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Entrevista com Renan Ferreirinha

Formado em Harvard, Renan Ferreirinha é co-fundador do movimento suprapartidário Acredito e luta para que a educação seja pauta prioritária no país

Por Germano Martiniano
Único jovem a integrar a roda de debates durante o Ato do Polo Democrático e Reformista, manifesto promovido pela Roda Democrática com o intuito de fortalecer o centro democrático brasileiro contra candidaturas extremistas, realizado na última quinta-feira (28/06), em São Paulo, Renan Ferreirinha destacou a importância da juventude no processo político do país. Co-fundador e líder nacional do Movimento Acredito e do Mapa-Educação, ele chamou atenção do público presente com um discurso firme e transparente.
Natural de São Gonçalo (RJ), filho de professora e ex-aluno do Colégio Militar do Rio de Janeiro, Ferreirinha formou-se recentemente em Economia e Ciências Políticas na Universidade de Harvard, onde foi presidente da Associação Brasileira (HUBA) e membro fundador da Brazil Conference. Em 2016 trancou a faculdade e passou um tempo no Brasil para se dedicar ao Mapa Educação, manifesto criado em 2014, que objetiva tornar a educação pauta prioritária no país.
Nesta entrevista ao portal da Fundação Astrojildo Pereira (FAP) na série FAP Entrevista, além da questão educativa, Renan Ferreirinha também falou sobre os movimentos suprapartidários que estão surgindo no país e da participação do jovem na política, tal como destacou durante o Ato promovido pela Roda Democrática em São Paulo. “Mais do que falta de interesse dos jovens com a política é a falta de espaço, a falta de canais para se manifestarem. A provocação que faço é para as estruturas tradicionais abrirem mais espaço para os jovens terem voz, eles necessitam apenas serem escutados”, disse.
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:
FAP Entrevista: Renan, o que é o Movimento Acredito? O que ele defende e quais as pretensões?
Renan Ferreirinha – O Movimento Acredito é um movimento de renovação política suprapartidária nacional que defende uma renovação de princípios, práticas e pessoas. Queremos trazer uma nova geração para o poder legislativo, que atue por um país mais justo, desenvolvido e eficiente com dignidade e igualdade de oportunidades.
Como co-fundador do movimento, como foi esta sua inserção no campo político?
Eu sou um dos cinco co-fundadores e liderança regional do Movimento no Rio de Janeiro. Já atuo com políticas públicas há um bom tempo através da educação. Também criamos um outro movimento chamado Mapa Educação, que objetiva que a educação seja pauta prioritária no país e que todos brasileiros e brasileiras tenham acesso a uma educação de qualidade. Atuamos em diversas esferas, inclusive pressionando os políticos com suas promessas eleitorais para educação. Desta forma, estamos sempre em Brasília dentro das comissões de educação da câmara e do senado.
Você foi estudante em Harvard, chegou a terminar os estudos por lá ou voltou para criar o Mapa Educação?
Sim, terminei meus estudos em dezembro de 2017, em Harvard, onde fiz Economia e Ciências Políticas. Durante a faculdade cheguei a trancar o curso para trabalhar no Mapa Educação em 2016 no Brasil, mas depois retornei aos EUA para finalizar a graduação. Em relação ao Mapa Educação, foi um movimento criado em 2014 a partir do manifesto Mapa do Buraco, que elencava os principais “gargalos” e buracos da educação brasileira e apontou alguns casos de sucesso como Sobral, no Ceará e Foz do Iguaçu, no Paraná. Depois, tivemos bastante repercussão nas eleições de 2014 e criamos o movimento Mapa Educação para permitir que novas iniciativas como essa pudessem existir. Portanto, nosso papel é fiscalizador na área educativa e de empoderamento do jovem líder em educação, que faz projetos em nível local de bastante impacto, através de workshops, conferências e redes de apoio.
Estão surgindo vários movimentos não partidários no Brasil até em decorrência de um sentimento de repúdio à política. Como você analisa essa situação?
Tudo isso ainda é reflexo das manifestações de 2013. Neste ano, tivemos um “boom” de engajamento cívico no país através daquela “primavera brasileira”, em junho. No entanto, as ideias das pessoas estavam muito dispersas, não estavam sendo canalizadas. Depois disso, acabaram surgindo alguns movimentos e, recentemente, acredito que tenham surgido movimentos mais convergentes que não estão nos extremos. Infelizmente, tivemos e ainda temos movimentos mais extremistas, seja do lado A ou B, que não contribuem para um debate saudável e apenas aumentam a polarização desnecessária no país. Mas, a partir do momento que surgem movimentos como o Acredito, Agora e outras iniciativas políticas, se tem uma maior qualificação do debate, uma busca de projeto de país que seja mais interessante a todos. Então, acredito que estamos num momento de transição, no qual os partidos políticos têm sentido este repúdio à política e precisam mudar esta realidade, pois toda democracia forte perpassa por partidos políticos fortes.
Você participou na última quinta-feira do Ato do Polo Democrático e Reformista em SP e na mesa de debate você era o único jovem. O que acontece? Falta interesse pela política ou não se abre espaço para a juventude se apresentar?
Mais do que falta de interesse é a falta de espaço, falta de canais para o jovem se manifestar. A provocação que faço é para as estruturas tradicionais abrirem mais espaço para os jovens terem voz. Eles necessitam apenas serem escutados. O espaço foi muito importante, porém ainda muito reduzido. Precisamos ter mais jovens. Existem, assim como eu, diversos outros jovens, de vários cantos do país, atuando e lutando pelo protagonismo social. Temos que acreditar na juventude!
Daqui a alguns meses os brasileiros irão escolher seu novo presidente. Qual sua avaliação dos pré-candidatos à presidência?
É triste ver que as pré-candidaturas não possuem ainda um projeto de país claro. Muita coisa ainda vai acontecer até 07 de outubro, mas não teremos um nome outsider (e não estou emitindo juízo de valor quanto a isso), mas serão praticamente estes nomes e acredito que temos que ir além dos extremos. Tenho bastante preocupação com o extremo fascista e o populismo, independentemente, da ideologia. Temos que rechaçar sempre o populismo.
O Movimento Acredito irá apoiar alguma candidatura?
O Movimento Acredito não apoiará nenhuma candidatura no Executivo, nem a presidente e nem a governadores. Apenas apoiaremos candidaturas ao Legislativo. Nós temos um processo de prévias, de líderes cívicos que virão como candidatos a deputado estadual e federal e, provavelmente, teremos um piloto ao senado em Sergipe. Então, apoiaremos, aproximadamente, trinta candidaturas ao redor do país, porém só para o poder legislativo.
Quais as plataformas políticas o Movimento Acredito espera de um candidato?
Nossos cinco temas prioritários são: reforma política, acreditamos em um modelo distrital misto; educação; inovação e empreendedorismo; reforma da previdência e segurança pública.
E quais são as suas pretensões políticas?
Como líder do Acredito e do Mapa Educação, pensamos coletivamente que em um futuro bem próximo possa ser interessante concorrer a algum cargo eletivo. Entretanto, essa decisão deve ser coletiva. Vamos aguardar os próximos capítulos.

Amanhã tem Brasil na Copa, está confiante? O Hexa vem?
Estou extremamente confiante e o Hexa vem. Cansei de ser penta e segue abaixo o link de um artigo meu para o Estadão, no qual eu falo como o título pode nos ajudar a renovar o país!

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Entrevista com Arnaldo Jardim

“O Brasil possui uma das legislações mais exigentes do ponto de vista de preservação ambiental do mundo”, diz Arnaldo Jardim

Por Germano Martiniano
Ex-secretário de Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo, o deputado federal Arnaldo Jardim (PPS-SP) conversou com a Fundação Astrojildo Pereira (FAP) sobre o tema agricultura, que sempre dividiu opiniões em todo o Brasil. Sabe-se que ela foi o “carro-chefe” do país, começando pela cana-de-açúcar, ainda na colonização, depois o café, que sustentou a transição da monarquia para a República do café com leite (1889-1930), por exemplo. Atualmente, produzindo diversos produtos, da soja a carne, o Brasil continua tendo na produção e exportação de produtos primários uma base relevante de sua economia. Ao mesmo tempo, o setor enfrenta muitas críticas no que concerne à degradação ao meio-ambiente.
Arnaldo Jardim é o entrevistado desta semana da FAP Entrevista, série que está sendo publicada aos domingos com intelectuais e personalidades políticas de todo o Brasil, com o objetivo de ampliar o debate em torno do principal tema deste ano: as eleições. Engenheiro civil de formação, Jardim que há certo “excesso de realismo” em relação as críticas que se fazem sobre agricultura destruir o meio-ambiente. “Organizações internacionais que falam sobre a Amazônia ignoram o fato de que o Brasil ainda tem 50% do seu território de cobertura vegetal nativa”, informa. Na entrevista à FAP, ele também fala sobre o nosso perfil agroexportador: “Não há como pensar em desenvolver todos os setores do Brasil para que todos possuam um processo de industrialização e agreguem valor”.
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:
FAP Entrevista – A greve dos caminhoneiros é passado, ou ela ainda deixa “feridas” na economia e população brasileira?
Arnaldo Jardim – A greve dos caminhoneiros, como você citou, deixou feridas na economia e na sociedade brasileira. Primeiro, porque foi uma reação a uma situação que vários fatores se conjugaram: excesso de oferta de caminhões; adequação da política de preços da Petrobras ao mercado, que do ponto de vista do mercado é satisfatória, mas do ponto de vista social se ignorou uma oscilação de preços de acordo com o dólar, que impactou o bolso do consumidor brasileiro; por fim, a maior ferida que fica é a institucional, que revelou um governo absolutamente frágil, incapaz de prevenir, comandar e dar respostas às demandas sociais.
E o setor agroexportador como ficou? Qual foi o real prejuízo ao setor?
A greve causou um impacto muito grande devido à interrupção do fluxo e pelo fato de que com a objetiva elevação de custos do setor não tem exatamente como incorporar estes custos a negociações já feitas de valores das exportações há muito tempo. Portanto, com isso os cálculos variam, falam em perdas de 12 bilhões de reais, porém são números a serem analisados com mais calma. O problema é que isto incorporou uma instabilidade de mercado que os concorrentes internacionais podem se aproveitar e caracterizar como descumprimento de contratos. Ou seja, nossa imagem fica um pouco abatida.
Durante a greve, a discussão do modelo de transporte de cargas e de pessoas voltou à tona no Brasil. Qual sua opinião sobre o nosso atual modelo de transportes baseado em caminhões e carros em detrimento de trens e transportes públicos de qualidade?
A questão da discussão matriz de transportes, modal rodoviário no caso, que é absoluto no Brasil, pode-se dizer que é um meio muito concentrador daquilo que é hoje nossa capacidade de transportar pessoas e cargas. Portanto, existe a necessidade de ampliar, primeiro, a integração de modais e segundo, especificamente, os modais ferroviários e hidroviários.
O senhor acha que nossa “vocação” histórica agroexportadora fez com que deixássemos de produzir produtos de maior valor agregado?
Há uma discussão sendo feita pelos economistas do que significa exatamente um país exportador de commodities ou um país exportador de produtos industrializados ou semi-industrializados. A lógica intuitiva de todos obviamente é de que um país que agregue valor, por exemplo, ao invés de vender a soja venda o farelo ou óleo, isso parece natural e penso que o Brasil deveria pensar em completar cadeias de produção. Contudo, acho que precisamos trazer para o debate, dentro de um projeto nacional, discutir exatamente em quais setores nós temos vantagens competitivas e comparativas internacionais para fazermos toda cadeia, sendo vanguarda de conhecimento nesta área. Não há como pensar em desenvolver todos os setores do Brasil para que todos possuam um processo de industrialização e agreguem valor. Em alguns casos é mais barato comprarmos algo importado do que pensarmos em produzir aqui.
Muitas criticas são feitas ao setor agropecuário devido ao estrago que se faz ao meio-ambiente, desmatamento, desgaste do solo, emissão de CO2, etc. Existem leis e conscientização por parte dos agricultores para se crescer de maneira sustentável?
Aqui no Brasil, às vezes, somos mais realistas do que o rei. Por exemplo, organizações internacionais que falam sobre a Amazônia ignoram o fato de que o Brasil ainda tem 50% do seu território de cobertura vegetal nativa, dados da Embrapa e comprovados por organismos como a Nasa. Ou seja, organismos internacionais proveniente dos EUA ou países europeus, que possuem menos de 10% de cobertura vegetal nativa em seus territórios, querem nos ensinar como cuidar da Amazônia, ou biomas como o do Pantanal. Fato é que o Brasil possui uma das legislações mais exigentes do ponto de vista de preservação ambiental do mundo. O debate em torno da questão ambiental e outras questões assemelhadas não pode ser um debate pseudo-ideológico, mas sim em torno da ciência, como um critério para mensurar a capacidade que temos de inovar e os eventuais malefícios que tivermos serem medidos objetivamente e não serem frutos de um discurso ideológico.
O que está faltando para o centro emplacar um candidato para as eleições?
Todos nós sabemos que a convergência democrática é a melhor resposta para aquilo que sociedade necessita hoje, que não é somente eleger uma pessoa, mas eleger uma pessoa que tenha uma base ampla de apoio, que seja capaz de superar o período de radicalização que vivemos na política nacional. Há uma frase que tenho reiteradamente dito: “chega de gladiadores, é hora dos construtores”. Eu acho que isso sintetiza muito aquilo que o meu partido, PPS, formulou no seu congresso nacional e definiu como estratégia para sua intervenção.
O que o senhor pensa desta polarização política que domina o cenário pré-eleições?
Acho que naturalmente a convergência democrática irá se estabelecer ao longo dos próximos meses e assim minar a polarização política existente. Por isso, devemos trabalhar em cima de um programa de unidade, de pontos de consenso, de um candidato capaz de conduzir as reformas necessárias ao país. Temos que debater permanentemente assuntos como a desregulamentação da economia, retomada da concorrência em diversos setores do mercado, a necessidade de um Estado regulador e não provedor. Desta forma, no plano da convergência democrática teremos também o embate com setores mais liberais que existem por aí e devemos enfatizar a necessidade do compromisso social e não apenas econômico.
Quais devem ser, tanto para agricultura, quanto para os demais setores da economia brasileira, as principais plataformas políticas para o país voltar a crescer e gerar empregos?
Acredito de acordo com o que foi dito, que devemos definir os setores que temos mais competitividade e também ter uma visão mais clara das alianças internacionais que o Brasil deverá desenvolver. Do ponto de vista interno, privilegiar setores de uso intensivo de mão de obra, pois hoje temos quase 13 milhões de desempregados. Considerar que o sistema financeiro deve ter redefinido sua vocação para ser efetivamente um fomentador dos investimentos de longo prazo e não simplesmente um setor que viveu da rolagem de títulos públicos. No mais, forte investimento em inovação e políticas públicas voltadas para educação.

sábado, 9 de junho de 2018

Germano Martiniano: Brasil perde uma das maiores esportistas da história, a tenista Maria Esther Bueno

Ex-número 1 do mundo, a tenista paulistana conquistou 19 títulos de Slam e somente ela e Gustavo Kuerten no Brasil integram o Hall da Fama do Tênis

Maior tenista da história do Brasil, reverenciada internacionalmente, ganhadora de 71 torneios, dentre eles, 19 títulos de Grand Slam, Maria Esther Bueno faleceu ontem, sexta-feira (08/06), em São Paulo, vitima de um câncer. A Bailarina do Tênis, como era conhecida devido à plasticidade e habilidade que davam graça ao seu jogo, Maria Bueno lutava contra um câncer desde o ano passado, que se iniciou no lábio e se espalhou pela garganta. Chegou apresentar melhoras, depois de passar por sessões de quimioterapia, contudo, este ano, em abril, a doença se espalhou por outros órgãos do corpo e a ex-tenista não resistiu e veio a falecer no hospital Nove de Julho, na capital paulistana, onde estava na UTI há alguns dias.
Mesmo internada e em estado grave, Maria Esther continuava lúcida e não se cansava do esporte que a fez uma lenda. Na terça-feira, inclusive, assistiu ao jogo entre o sérvio Novak Djokovic e o italiano Marco Cecchinato pelas quartas de final de Roland Garros. Essa paixão pelo tênis, que levou até a morte, se iniciou ainda menina, no Clube de Regatas Tietê, na zona norte de São Paulo, na companhia do irmão mais velho, Pedro. Em 1954, com 14 anos, foi então que a tenista começou a mostrar seu potencial ao ganhar vários torneios pelo Brasil contra adversárias mais velhas.

terça-feira, 5 de junho de 2018

Entrevista: Marcus Pestana

Um dos autores do Manifesto por um polo democrático e reformista, que será lançado nesta terça-feira (05/06) em Brasília, Pestana diz que a iniciativa surgiu da necessidade de se encontrar um caminho entre o “desastre e a catástrofe política”, citando frase do senador Cristovam Buarque

Por Germano Martiniano
Em um ano em que milhões de brasileiros irão eleger um novo presidente da República, a esperança de propostas políticas progressistas e que girem em torno de um ambiente reformista e democrático ainda está assentada no centro democrático, que no atual momento se encontra bastante fragmentado. De Marina Silva ao governador Geraldo Alckmin, nenhum candidato conseguiu emplacar candidaturas fortes. Por quê? E quais propostas devem estruturar e unir o centro democrático para fazer frente ao radicalismo que tem imperado em nossa política? São essas respostas que o “Manifesto por um polo democrático e reformista” busca dar à população brasileira. Sob a iniciativa do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do senador Cristovam Buarque (PPS-DF), do ministro Aloysio Nunes Ferreira e do deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG), o Manifesto será lançado nesta terça-feira (05/06), em Brasília, às 16h, no Café do Salão Verde da Câmara dos Deputados.
A série FAP Entrevista desta semana é com o deputado federal Marcus Pestana, um dos autores do Manifesto e ex-presidente do PSDB de Minas Gerais. Ele lembra como surgiu a ideia de se criar o Manifesto: “A iniciativa de criar o Manifesto surgiu de uma conversa minha com o Senador Cristovam Buarque”, disse. “Decidimos nos movimentar frente à fragmentação das forças democráticas”, concluiu Pestana, citando uma frase do senador pelo PPS-DF para sintetizar a situação: “Precisamos encontrar um caminho entre o desastre a catástrofe, por isso tivemos essa ideia que contou com o apoio entusiasta de FHC, Aloisio Nunes e mais trinta signatários.”
Formado em economia, Marcus Pestana iniciou sua vida política como vereador de Juiz de Fora (MG) em 1983. Em 2006, foi eleito deputado estadual, porém se afastou do cargo em 2007, quando se tornou secretário de Estado da Saúde de Minas Gerais. Em 2010 foi eleito deputado federal, reeleito em 2014. Nesta função votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff e também da Reforma Trabalhista. Em 2013 foi avaliado pela revista Veja como o segundo melhor deputado federal do país naquele ano. A entrevista integra uma série que a FAP está publicando, aos domingos, com intelectuais e personalidades políticas de todo o Brasil, com o objetivo de ampliar o debate em torno do principal tema deste ano: as eleições.
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:
FAP Entrevista – Como surgiu e de quem foi a ideia de realizar o Manifesto “Por um polo democrático e reformista”?
Marcus Pestana – Inicialmente partiu de uma conversa minha com o Senador Cristovam Buarque. Decidimos nos movimentar diante da perspectiva de fragmentação das forças democráticas e reformistas e de um segundo turno nas presidenciais, como disse o Cristovam, entre o desastre e a catástrofe. Esboçamos o Manifesto, como ponto aglutinador, e submetemos ao FHC e ao Aloisio Nunes Ferreira que apoiaram com entusiasmo. A partir daí, consolidamos a lista inicial de 30 signatários para o lançamento no próximo dia 5/6, próxima terça.
O país encontra-se, atualmente, polarizado entre o populismo autoritário de direita e o de esquerda. Onde foi que o centro democrático errou e por que chegamos a tal polarização?
Não conseguimos enraizar a perspectiva democrática no seio da sociedade. Seguimos um modelo de organização partidária tradicional e deixamos brechas pra sobrevivência dos populismos autoritários. A Lava-Jato, ao revelar o submundo do sistema, jogou todos na vala comum. Há um abismo separando a sociedade e sistema político. Neste espaço os populismos nadam de braçada, oferecendo saídas simples, fáceis, boas de serem ouvidas, mas equivocadas para problemas complexos. O quadro político tradicional frustrou a sociedade e aí surgem os aventureiros.
Como será o trabalho do Manifesto após seu lançamento e como fazer com que o mesmo alcance a sociedade?
Vamos procurar todos os pré-candidatos e direções partidárias identificadas com esse campo de ideias, dos liberais aos socialdemocratas e socialistas democráticos. Dialogar para ver como produzir a urgente e essencial unidade política e eleitoral.
O Manifesto visa uma ampla unidade política contrária à disseminação de discursos radicais. Como unir candidatos presidenciais por uma mesma bandeira?
A união pode se dar já nas convenções, com a convergência em torno de um candidato que represente o polo democrático. Pode se dar também ao longo do processo do primeiro turno, com candidatos pior posicionados retirando seus nomes e apoiando quem estiver melhor se o apocalipse se anunciar a 20 ou 15 dias da eleição. Ou a unidade pode se materializar no segundo turno. O problema é se o campo democrático estiver ausente, hipótese que não pode ser afastada, ao contrário, hoje seria a mais provável.
A greve dos caminhoneiros expôs a crise financeira pela qual o Estado brasileiro passa. Para o senhor, quais as mudanças prioritárias para economia brasileira?
Sem equilíbrio fiscal não haverá a manutenção de baixas taxas de inflação e juros. Portanto, sem responsabilidade fiscal não haverá crescimento, investimentos e geração de emprego e renda. A Petrobras é uma empresa de capital aberto, com acionistas minoritários e regras de mercado. Quando se quer subsidiar algo deve ser por meio de subsídio explícito, no orçamento, com custo definido e decisão transparente e democrática. Sem as reformas tributária, fiscal, previdenciária e política, o Brasil não irá longe.
Como o senhor avalia uma possível aliança do governador Geraldo Alckmin com o MDB para disputar a presidência? Não seria continuar com mais do mesmo?
O ex-governador Alckmin tem experiência, competência comprovada, serenidade e capacidade de diálogo. Tem o perfil que o Brasil precisa. Mas isto é uma construção política. O fundamental são as ideias e a unidade do campo democrático. O BLOCO DEMOCRÁTICO é suprapartidário e tem compromisso com uma visão de futuro e não com nomes. O MDB tem uma lógica própria, está no poder e legitimamente quer defender o legado de Michel Temer.
Alckmin poderia ser o nome adequado para realizar as mudanças apontadas no Manifesto?
O perfil é perfeito para liderar o processo de reformas e mudanças. Mas temos que agregar o campo democrático e ganhar as eleições. O Brasil vive tempos sombrios e instáveis. É uma loteria a eleição de 2018.
Existe um clamor na sociedade brasileira por renovação política, por mudanças que o próprio Manifesto apontou. Contudo, muitas das mudanças necessárias ao país esbarram nos interesses dos grandes partidos como PT, PSDB e MDB. A reforma eleitoral e a distribuição desigual dos repasses financeiros é um exemplo. Como quebrar essas velhas estruturas de poder, que desejam deixar tudo como está?
Renovar por renovar não faz sentido. Oxigenar o sistema é ótimo. Mas para os desafios complexos que temos pela frente, experiência é fundamental. Mesclar renovação com experiência é o caminho. O futuro está na mão do cidadão. Não há saída sem democracia. A ameaça autoritária tanto na matriz bolivariana quanto na proto-fascista tem de ser derrotada. O mistério é descobrirmos o caminho da vitória do polo democrático e reformista.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Luiz Carlos Azedo: Música para profissionais

Desta vez, a esfinge é que foi devorada. Com a saída de Barbosa, que seria o grande outsider nas eleições deste ano, o jogo voltou a ser exclusivamente dos políticos, com seus defeitos e qualidades

Já virou lugar-comum a frase famosa do compositor e maestro Antônio Carlos Jobim: “O Brasil não é para principiantes”. Serve como uma luva para a decisão do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa de não concorrer à Presidência da República. O ex-ministro, depois que se filiou ao PSB, apareceu em todas as pesquisas como um candidato competitivo, mas em nenhum momento anunciou a candidatura. Nem a cúpula do PSB. Ontem, pelo Twitter, comunicou a desistência; os governadores do PSB agradecem.

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Entrevista com Elimar Nascimento

Especialista em Desenvolvimento Sustentável, Elimar Nascimento critica o fato do tema estar fora das discussões neste ano de eleições no Brasil



Por Germano Martiniano
O entrevistado desta semana da série FAP Entrevista é o sociólogo Elimar Pinheiro do Nascimento, professor permanente do Programa de Pós-Graduação de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UnB) e do Programa de Pós-Graduação Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Com doutorado na Universidade Rene Descartes e pós-doutorado na Ecole des Hautes em Ciências Sociais na França, Elimar também foi professor em Moçambique e no Equador. Participou dos governos de Zamora Machel (Moçambique), Miguel Arraes e Cristovam Buarque. Atualmente, também escreve artigos para o site Política Brasileira (http://blogdapoliticabrasileira.com.br/autor/elimarnascimento/). Esta entrevista faz parte de uma série que a FAP está publicando, aos domingos, com intelectuais e personalidades políticas de todo o Brasil, com o objetivo de ampliar o debate em torno do principal tema deste ano: as eleições.
Elimar tratou de temas que se destacam quando o assunto é o ensino superior no Brasil: aliciamento ideológico, avanço tecnológico e o mundo do trabalho, além do controverso curso “O Golpe de 2016”, referência ao Impeachment de Dilma Rousseff. “A Universidade é um espaço de diálogo, de controvérsias, de confrontos de visões e interpretações diferentes”, avalia. “Por minhas impressões, cursos desta natureza não são bons”, destaca Nascimento, sobre o curso que foi ministrado na UnB.
Além das questões relacionadas às universidades brasileiras, o sociólogo também conversou com a FAP sobre o atual momento da política brasileira. Especialista em Desenvolvimento Sustentável, ele analisa com preocupação o momento atual em nosso país, por ver que o tema não faz parte do centro das discussões políticas. “A questão do Desenvolvimento Sustentável é marginal aqui no Brasil, como o é nos Estados Unidos, na França e na maioria dos países democráticos. Ele é muito genérico, pouco palpável para as pessoas”, afirma Nascimento.

domingo, 22 de abril de 2018

Entrevista com Luiz Sergio Henriques

Para Henriques um dos grandes males da politica nacional brasileira é a atual polarização da sociedade. “Aos poucos perde-se a noção, absolutamente essencial, de que pode haver um bem comum, nutrido, evidentemente, por ideais de liberdade”

Por Germano Martiniano
O entrevistado desta semana da série FAP Entrevista é Luiz Sérgio Henriques, tradutor e ensaísta. Com uma ampla participação em jornais e revistas associados ao velho PCB, como Voz da Unidade e Presença, na Fundação Astrojildo Pereira dirige a coleção Brasil & Itália, que trouxe para o público brasileiro livros inéditos de Giuseppe Vacca, Silvio Pons e outros. Coeditou, com Marco Aurélio Nogueira e Carlos Nelson Coutinho, as Obras de Antonio Gramsci, lançadas pela Editora Civilização Brasileira. Há vários anos é colaborador regular de O Estado de S. Paulo. Edita o site Gramsci e o Brasil e a página Esquerda Demócratica (que podem ser acessados por meio dos links www.gramsci.org e https://www.facebook.com/esqdemocratica, respectivamente). Esta entrevista faz parte de uma série que a FAP está publicando, aos domingos, com intelectuais e personalidades políticas de todo o Brasil, com o objetivo de ampliar o debate em torno do principal tema deste ano: as eleições.
Para Henriques, um dos grandes males da politica nacional brasileira atualmente é a polarização da sociedade. “Aos poucos perde-se a noção, absolutamente essencial, de que pode haver um bem comum, nutrido, e níveis menos escandalosos (bem menos!) de desigualdade social e regional”, avalia.
A democracia está sob ataque, no cenário internacional, acredita Luiz Sérgio Henriques. “A Europa do compromisso social-democrata sofre um assédio dos dirigentes ditos ‘populistas’, Evidente, ainda, a crispação dos Estados Unidos sob Trump, que parecem recuar desordenadamente para o interior das suas fronteiras e abdicar das instituições multilaterais que ajudaram a formar, em primeiro lugar a ONU”, avalia o especialista em Gramsci.
Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista com Luiz Sergio Henriques:
FAP – O jornalista William Waack, nesta semana, escreveu um artigo que analisa a pobreza do atual debate político brasileiro que, praticamente, se restringe ao tema da corrupção, mas que se preocupa muito pouco com outras questões essenciais a sociedade. O senhor concorda com essa visão e quais seriam as questões essenciais a serem debatidas?Luiz Sergio Henriques – Pode-se evidentemente ter uma visão pobre sobre o problema da corrupção, supondo que ela seja o tal câncer que corrói a nação, superado o qual nos tornaríamos uma Escandinávia dos áureos tempos. Tradicionalmente, a esquerda chamou esta visão de “udenismo”, um moralismo convencional e muitas vezes hipócrita. Mas a pegada udenista não é a única possível. Há problemas de moralidade pública quando um partido de governo ocupa a máquina pública com a ideia de se autorreproduzir indefinidamente, pelo menos em princípio. Ou quando, inversamente, um partido de oposição se comporta de modo irresponsável, educando ou deseducando os seus seguidores com exigências radicais, que não poderá satisfazer uma vez no governo. A correta relação com as instituições, o tema do bom governo, o ativismo governamental em favor dos mais desfavorecidos, com boas e eficientes políticas públicas – nada disso é udenismo. Recordo que outrora o petismo se considerava o monopolizador da ética na política. À luz do que aconteceria depois, podemos dizer que se tratava de uma versão particularíssima do udenismo, que não resistiria ao contato com a vida real.
O ex-presidente Lula teve mais um recurso de defesa negado pelo TRF-4, em Porto Alegre, nesta última semana. O Partido dos Trabalhadores e seus simpatizantes continuam com o discurso de que Lula é um preso político. Como o senhor avalia esse discurso?
Saímos de uma ditadura de fato em 1985. Embora haja novas e novíssimas gerações que não viveram aquele pesadelo, todos sabemos muito bem o que é um preso político, o que é a tortura, o exílio, o morto sem sepultura. Acostumamo-nos, por exemplo, a ler os relatórios de ONGs que respeitávamos, como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, que faziam a denúncia global dos crimes e arbitrariedades políticas aqui cometidos. Nada disso está presente hoje. Os relatórios internacionais falam (e devem mesmo falar) das nossas infelizes chagas “costumeiras”, como os 60 mil assassinatos anuais, a violência policial, a violência contra os bons policiais, os cárceres desumanos, mas não denunciam nenhum regime ditatorial, nem poderiam. O ex-presidente Lula, tal como Eduardo Cunha ou Sérgio Cabral, é apenas um político preso, por mais que conte com uma massa considerável de adeptos e seguidores mais ou menos convictos que jurem de pés juntos que ele é um perseguido. Existe em nosso país a separação plena de poderes, o Judiciário não é um ramo subordinado a partidos ou governos. Sem fazer qualquer juízo de mérito, constato que o Executivo tem à frente um político extremamente impopular, que não teria a mínima força para dar um golpe ou um autogolpe e instaurar um regime de exceção. As Forças Armadas comportam-se nos termos constitucionais. Elas se atualizaram e até participaram de missões em defesa dos direitos humanos, como no Haiti, sob a bandeira da ONU. Não há mais a guerra fria, apesar da polarização desastrada que atravessa a nossa sociedade. O calendário eleitoral não pode ser rasgado e há plena liberdade de organização partidária, como é natural que haja quando comemoramos os 30 anos da nossa mais avançada Constituição.
Em seu último artigo, o senhor citou que nenhuma sociedade poderia superar suas contradições mais agudas dividida em “metades inconciliáveis”. O Brasil atual, inflamado pelo discurso petista e também de Bolsonaro, vive grande polarização política. Como acabar com essa divisão?
A divisão de uma sociedade ao longo de linhas mais facciosas do que partidárias é uma maldição. Aos poucos perde-se a noção, absolutamente essencial, de que pode haver um bem comum, nutrido, evidentemente, por ideais de liberdade e níveis menos escandalosos (bem menos!) de desigualdade social e regional. A recuperação da ideia de bem comum deveria ser a tarefa essencial de todos os democratas, sem maiores distinções. Como estamos situados numa determinada faixa do espectro político, que é a esquerda, pessoalmente gostaria que esta mesma esquerda, ou sua parte majoritária, assumisse um papel de protagonista na construção e consolidação do terreno comum. Isto simplesmente não foi possível com o lulismo e o petismo, que se articulou em torno de esquemas simplórios, como aquela terrível imagem de “casa grande” e “senzala”. Seriam escravocratas, homofóbicos, xenófobos ou misóginos – em suma, moradores da casa grande – todos os não-petistas e mesmo os antipetistas, o que está muito distante de corresponder à realidade. Ou, para falar a verdade, significa uma monumental distorção dos fatos. Basta olhar ao nosso redor e ver que, fora dos limites estreitos da militância e do fanatismo, há pessoas sensatas, razoáveis, que se preocupam com o futuro delas e do país. E estas pessoas são a maioria. A grande política, hoje, significaria dar voz a elas, na multiplicidade de suas exigências e demandas, relegando às margens os incendiários de todo tipo. Esta maioria abomina a extrema-direita truculenta que alguns hoje querem “normalizar”.
Outro ponto de destaque em seu artigo foi que “nenhuma esquerda podia mais pôr em questão, para se credenciar a um papel dirigente, a dialética democrática”. O senhor acha que o PT, mesmo com a prisão de Lula, ainda representa uma ameaça à esquerda democrática brasileira, e em um sentido mais amplo, à democracia brasileira?
Dirigir um país é ter políticas e programas para todos. É buscar exaustivamente o consenso ativo dos governados, recomeçando a cada dia esta tarefa interminável. É falar a verdade, dar explicações constantes e, de repente, aprender. É preciso ter um alto sentido de Estado e das suas instituições. Agir no parlamento e em todos os demais fóruns como um fator de modernização, participação e transparência. Como, a meu ver, não temos nenhuma outra bússola a não ser a Constituição de 1988, fico incomodado quando em reiterados documentos oficiais o principal partido de esquerda volta a defender assembleias constituintes inteiramente extemporâneas. Há poucos dias um de seus notórios representantes apregoou “o fechamento do STF”, o que me parece de um sectarismo sem par, que não ficaria deslocado na boca de algum porta-voz daquela extrema-direita que mencionei. Por ocasião dos acontecimentos de 2005, o “mensalão”, houve vozes dentro do PT que falaram em refundação do partido. Vozes fracas, é verdade, mas houve. Nestes últimos meses tenho tentado observar movimentos, mesmo mínimos, na direção de uma autocrítica e de uma vontade de dar início a uma reflexão menos precipitada sobre a política e sobre o nosso país. Em algum momento, o PT terá de enfrentar esta realidade e ver a sua própria cara no espelho, sem condescendência de nenhum tipo. Hoje o partido parece perdido entre a agressividade e o instinto de defesa a qualquer custo. Isto não anuncia nada de bom nem para o partido nem para o nosso país.
Quais partidos políticos representam, atualmente, no Brasil, uma esquerda democrática e qual deve ser o papel dos mesmos?
Não gostaria de citar este ou aquele partido até pelo quadro extremamente caótico do sistema. Praticamente todos os partidos, uns mais, outros menos, estão sendo atingidos pelas múltiplas investigações em curso, o que não deixa de ter o seu lado extremamente perigoso. Afinal, não custa lembrar que não há democracia sem partidos. Agiram e continuam a agir fatores muito potentes de desagregação. Limito-me a citar a espantosa janela de infidelidades, que, efetivada a poucos meses das eleições gerais de 2018, quis “corrigir” o resultado das urnas de 2014, fazendo com que detentores de mandato mudem de sigla até mais de uma vez ao sabor dos leilões do fundo partidário e eleitoral. Há muitas razões, assim, para o cidadão não sentir um vínculo maior com o deputado que deveria ser “seu”, mas não é. Há bons deputados espalhados nas várias agremiações de centro-esquerda e centro-direita, e será interessante ver em ação os novos mecanismos “centrípetos” recentemente aprovados, como a cláusula de desempenho e, mais à frente, a proibição de coligações nas eleições proporcionais. Haverá incentivo para que iguais e afins se juntem em grupos mais consistentes, interrompendo a lógica de criação indefinida de simulacros de partidos. Não se consegue implantar um sistema pronto e acabado, como num experimento controlado em laboratório, mas é evidente que ainda estamos longe de resolver o tema crucial do financiamento das atividades partidárias. Ele deve ser público, privado ou uma mistura de ambos? Na época digital, limites de custos de campanha e controle dos recursos empregados se tornam uma imposição. Não é possível que a política seja uma alavanca para a riqueza privada daqueles que vivem da política, não para a política. Já num plano mais substantivo, é de se esperar que as novas agremiações que resistirem ao teste da barreira mínima de votos e da proibição de coligações se tornem menos ideológicas e mais programáticas. Nunca houve nem haverá uma só solução para cada um dos nossos imensos desafios, e é fundamental que os partidos, em número bem mais contido do que os de hoje, saibam elaborar as diferentes soluções possíveis a partir da diversidade de interesses que existem na sociedade. Convém lembrar, contudo, que sairá vencedor aquela condensação de interesses que se elevar até o plano geral, rompendo o egoísmo e o corporativismo. Um desafio para uma futura esquerda renovada.
O conflito na Síria, além de colocar em choque grandes nações, também evidencia ainda mais o advento de governos autoritários, além de discursos hostis. A democracia no ocidente está em risco? O senhor considera a possibilidade de outra grande guerra?
A democracia política é um conjunto de valores e instituições herdados do liberalismo clássico e progressivamente ampliados pela ação de classes e setores subalternos, ao longo de séculos de lutas muitas vezes duríssimas e até cruentas. O sufrágio universal, por exemplo, não foi o resultado de belo sonho de uma noite de verão. Muito menos o sindicalismo autônomo e a própria forma-partido. Por isso, é fácil perceber que a democracia é um patrimônio coletivo que permite o desenvolvimento da política como persuasão, como consenso, como luta social muitas vezes áspera, mas dentro de parâmetros definidos, sem descambar para a guerra de todos contra todos. Este conjunto de regras está hoje sob ataque. A Europa do compromisso social-democrata sofre um assédio dos dirigentes ditos “populistas”, com sua capacidade preocupante de dar uma resposta – por mais ilusória e regressiva que possa ser – ao desenraizamento trazido pelo fenômeno perturbador da globalização. Evidente, ainda, a crispação dos Estados Unidos sob Trump, que parecem recuar desordenadamente para o interior das suas fronteiras e abdicar das instituições multilaterais que ajudaram a formar, em primeiro lugar a ONU. Na América Latina, não foram poucas as ameaças trazidas pelo bolivarianismo, cujo projeto de “socialismo do século XXI”, essencialmente autoritário, contribuiu para desonrar uma vez mais os conceitos de esquerda e de socialismo. Ao mesmo tempo, vivemos possibilidades imensas, com o avanço da ciência, a transição energética e a revolução nas tecnologias de comunicação e informação. Todo e qualquer progresso traz em si novos dilemas éticos, que nem sempre conseguimos formular e decifrar no calor da hora. A sensação é que os fatos continuam a correr na frente da nossa capacidade de dirigi-los e ordená-los minimamente. No fundo, tudo isso é um conjunto de grandes desafios que podem revitalizar e dar substância à política democrática.
Em Cuba, Raul Castro cedeu a presidência a Miguel Diaz Canel, 57 anos, nascido após a revolução de 1959. Qual o significado e o peso dessas mudanças?
Sob muitos aspectos, Cuba é um legado de um mundo que já passou. Sua revolução, que deixou traços duradouros na imaginação da esquerda, hoje é um mito com reduzida capacidade expansiva além dos círculos irremediavelmente presos ao passado, o que, aliás, é um direito de quem quer se deixar prender desta maneira. No entanto, não creio que se deva pensar o socialismo como contraposição de países ou de “sistemas”. Ou como algo que se encarna num país ou noutro e que resiste ao capitalismo dos demais. Este é um caminho que deu em nada no passado e previsivelmente não nos levará longe no futuro. Já houve gente que viu o socialismo realizado na Albânia, contra todo o resto do planeta. Por sinal, mais importante do que Cuba é, seguramente, a China (e a Índia), cujo ritmo de expansão não se deteve nestes últimos anos de crise. E a China é, rigorosamente, um animal que não sabemos classificar, uma espécie de unicórnio do século XXI: sob a roupagem do comunismo tradicional do século XX (haja vista a recente entronização de Xi Jinping à frente do partido-Estado), desenvolve-se um mercado poderoso e omnívoro, ainda não contrabalançado por sindicatos ou outras formas associativas livremente organizadas. Mais uma das múltiplas esfinges que nos espreitam todo o tempo.

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Demétrio Magnoli: Lula não é um preso político

De Delúbio a Lula, passando por Dirceu e Palocci, todos os condenados petistas foram declarados presos políticos pelo PT –e, no caso de Lula, o PSOL aderiu à prática. Mas PT e PSOL não inscrevem Sérgio Cabral, Eduardo Cunha, Geddel ou Maluf no mesmo círculo




- Folha de S. Paulo


PT e PSOL não se opõem à subordinação da Justiça ao governo, com a condição de que seja o seu governo

terça-feira, 17 de abril de 2018

Merval Pereira: Marina na disputa

A pré-candidata da Rede diz que “não precisa reinventar a roda” para fazer um plano de governo eficiente: “Recuperar os fundamentos da política macroeconômica do Plano Real e aprofundar a inclusão social, indo para os programas sociais de terceira geração com inclusão produtiva e com políticas sociais customizadas”.
Merval Pereira


A ex-senadora Marina Silva surge como a grande beneficiária da saída do ex-presidente Lula da campanha presidencial na mais recente pesquisa do Datafolha. Está empatada tecnicamente na liderança com o deputado federal Jair Bolsonaro e à frente de políticos tradicionais com fortes estruturas partidárias, como Geraldo Alckmin do PSDB e Ciro Gomes do PDT.

terça-feira, 10 de abril de 2018

Punto Continenti: Prisão de Lula? Inevitável, diz Alberto Aggio

Em entrevista ao jornalista Rainero Schembri, do portal de notícias Punto Continenti (http://puntocontinenti.it/), da Itália, o professor e historiador Alberto Aggio comenta a prisão do ex-presidente Lula, no último sábado (7). Lula foi condenado a 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.  Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Professor Alberto Aggio, o que se pode dizer da prisão de Lula?
Alberto Aggio – A prisão do Lula é o resultado normal de um país que quer ver preservada a justiça, que quer ver o Brasil como, de fato, um país republicano no qual a lei é igual para todos. É evidente que trata-se de um caso muito particular. Pela primeira vez na história um ex-presidente é julgado, condenado e preso por um crime comum. Lula não é um preso político. Essa é uma narrativa que não se sustenta. Ele negociou ativos de todos os brasileiros, quando era presidente, para benefício próprio. E, esse processo pelo que foi condenado é apenas um deles, há mais processos nesse sentido contra o ex-presidente.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Entrevista com Cristovam Buarque

O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) é reconhecido, nacionalmente e internacionalmente, por seus esforços e inúmeros trabalhos por uma educação de qualidade no Brasil, que vão desde diversos livros e artigos publicados sobre o tema, até a ocupação de cargos de alto escalão, como Ministro da Educação e reitor da Universidade de Brasília (UNB)

Por Germano Martiniano
O entrevistado desta semana da FAP Entrevista é o senador e presidente do Conselho Curador da Fundação Astrojildo Pereira (FAP), Cristovam Buarque (PPS-DF). Oriundo de Recife (PE), é engenheiro mecânico, economista, educador, professor universitário e político filiado ao Partido Popular Socialista (PPS). Também foi reitor da Universidade de Brasília (UNB) de 1985 a 1989 e governador do Distrito Federal de 1995 a 1998. A entrevista faz parte de uma série que está sendo publicada, aos domingos, com intelectuais e personalidades políticas de todo o Brasil, com o objetivo de ampliar o debate em torno do principal tema deste ano: as eleições.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

O STF, o Judiciário, a crise

Um poder dividido é inoperante e devassável
Ao rejeitar, no início da madrugada de 5 de abril, o pedido de habeas corpus de Lula, por 6 votos a 5, o STF ensaiou uma recuperação de sua imagem. Numa longa e extenuante sessão que se se estendeu por mais de dez horas, a Corte reiterou a jurisprudência consagrada desde 2016 e liberou o caminho para a continuidade da Lava Jato, com a possibilidade de prisão de Lula. Exibiu à opinião pública suas divisões internas e seus ritos de difícil compreensão, mas recuperou a condição de parâmetro normativo, que ameaçava perder em virtude de suas oscilações e do ruído provocado por alguns de seus integrantes. Ao mesmo tempo, pacificou momentaneamente o sistema de Justiça.

O problema, porém, está longe de poder ser considerado resolvido. O Judiciário é hoje um poder em busca de estabilização e de legitimação social. Cercado por todos os lados, por dentro e por fora, flutua entre pressões do mundo político-partidário, expectativas sociais e reivindicações corporativas, que sobrecarregam a agenda e criam tensões recorrentes.

domingo, 18 de março de 2018

Entrevista com Soninha Francine

Vereadora pelo PPS-SP, Soninha Francine acredita que o fim do monopólio das organizações criminosas em relação à comercialização da maconha, poderia fazer com que a droga deixasse de ser a porta de entrada para o crime 
Por Germano Martiniano

A FAP Entrevista desta semana é com a vereadora Soninha Francine (PPS-SP).  Soninha, como é conhecida, é formada em cinema pela ECA-USP, mas foi no jornalismo que ganhou notoriedade, primeiramente, como VJ da MTV Brasil, depois pela TV Cultura e, por fim, como apresentadora da ESPN Brasil. Na vida política, seu primeiro mandato como vereadora foi pelo PT, em 2004, defendendo temas ligados a população LGBT, esporte, cultura, acessibilidade e meio-ambiente, entre outros. A entrevista faz parte de uma série que a FAP está publicando, aos domingos, com intelectuais e personalidades políticas de todo o Brasil,  com o objetivo de ampliar o debate em torno do principal tema deste ano: as eleições.

sexta-feira, 16 de março de 2018

A morte de Marielle e suas vertentes

Nota de Alberto Aggio, historiador, sobre a morte de Marielle Franco, vereadora do RJ, assassinada na última quarta-feira (14). 

                                  


Após a comoção que gerou o assassinato dessa brava brasileira, uma democrata eleita na cidade do Rio de Janeiro, com mais de 40 mil votos e que exercia com dignidade sua representação, não podemos ceder á retórica fácil que já começa a aparecer aqui e acolá, e que nasce quer do emocionalismo, quer do maximalismo de setores que raramente defenderam a democracia. A direita que apoia Bolsonaro - que se registre - se manifestou como era esperado: de forma boçal, quando não pelo silencio do seu representante maior. A esquerda democrática se manifestou, da mesma forma que o conjunto da cidadania, lamentando profundamente a violência que se abateu contra a vereadora do Psol, pedido apuração imediata e justiça. Agora, há uma esquerda que visa escapar do ostracismo que se manifesta de forma paradoxal: ao invés de valorizar a Republica e suas instituições, incide mais ainda no embate e no isolamento: o grito de "Fora Temer" e "Fim da PM" já reaparece; as vaias aos representantes das instituições política, voltam a estar presentes, como antes, como sempre. É uma esquerda desorientada: ao invés de juntar apoios, os afasta; e nessa hora em que um dos seus é golpeado de forma fatal. O lamentável, portanto, é que essa esquerda continua no mesmo lugar. Pior, não honra a sua brava representante: chama para a briga aqueles que, democraticamente, se colocaram contra essa barbárie. Que descanse em paz, Marielle, a despeito dos seus antigos parceiros, que não fazem jus ao seu legado de grande batalhadora democrática, representando os mais pobres e humildes. Continuaremos aqui, resistindo em nome da democracia e de uma sociedade mais justa e buscando o apoio de todos aqueles que querem o mesmo.