Livro do jornalista Luiz Carlos Azedo faz uma análise refinada de um dos períodos mais conturbados da história democrática do nosso país
Por Germano Martiniano
Na próxima terça feira (31), a Fundação Astrojildo Pereira (FAP) em parceria com a Verbena Editora farão o lançamento do livro “O impeachment de Dilma Rousseff – Crônicas de uma queda anunciada”, de autoria do jornalista Luiz Carlos Azedo, colunista político dos jornais Correio Braziliense e Estado de Minas. O evento, que acontecerá em Brasília, no restaurante Carpe Diem, SCLS 104, Bloco D, Loja 1, Asa Sul, das 19 às 22h, terá sessão de autógrafos com o autor.
Com longa experiência na cobertura da política nacional na capital federal, o autor, a partir das colunas publicadas nos dois jornais de amplitude nacional, faz uma análise refinada de um dos períodos mais conturbados da história democrática do nosso país. São textos que mostram o desmanche do governo petista, a reação palaciana, as implicações da Operação Lava-Jato no governo petista, os efeitos colaterais da saída de Dilma Rousseff e os novos cenários enfrentados pelo país com o governo Temer.
Segundo Alberto Aggio, historiador e professor titular da UNESP, no prefácio do livro, “as crônicas que o leitor tem em mãos são uma análise refinada, concebida no calor da hora, que faz jus ao melhor do jornalismo político. Reler o impeachment de Dilma Rousseff pelas letras de Azedo ajuda a repensar esse processo tão cheio de controvérsias, mas que está longe de ser algo injusto ou despropositado. O país soube enfrentar aquela situação dramática e o fez democraticamente”.
Em entrevista para o portal da FAP, Luiz Carlos Azedo comentou sobre de onde veio à iniciativa de se fazer o livro, a atual situação de Temer e a expectativa de renovação política para as eleições presidenciais em 2018. Confira, a seguir, trechos da entrevista:
FAP: De onde veio a iniciativa de reunir essas crônicas em um livro?
Azedo: Alguns companheiros, como o Francisco Almeida e o Alberto Aggio, vinham insistindo muito em reunir minhas crônicas e análises políticas num livro sobre o impeachment da Dilma Rousseff. Diziam que eu havia feito uma boa cobertura. Mas demorei pra reunir as colunas, não tinha muita certeza. Depois de uma viagem a Portugal, o Aggio me falou que o livro estava fazendo falta, porque a narrativa do golpe havia colado no exterior e era preciso algo que explicasse o que realmente aconteceu. A Hercídia, esposa do Aggio, se ofereceu para selecionar e organizar os textos, aí o livro saiu.
FAP: No seu livro você conta todas as etapas do processo de impeachment de Dilma. Por que Temer não caiu como a presidente do PT?
Azedo: Temer não caiu porque a ação contra a chapa Dilma-Temer foi empurrada com a barriga e arquivada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Se Dilma fosse presidente ainda, talvez isso não acontecesse com a máxima vênia. O julgamento foi claramente político, a chapa foi absolvida por “excesso de provas”. Na Presidência, Temer demonstrou capacidade de manter um mínimo de apoio no Congresso, ao contrário do que aconteceu com Dilma Rousseff. A votação dessa semana foi o quarto teste de fogo, se considerarmos as votações do impeachment na Câmara e no Senado e a primeira denúncia contra ele. Mas o governo saiu enfraquecido, ele ficou mais desgastado e a sociedade com mais ojeriza à política.
FAP: Mesmo que Temer não caia, hoje ele faz política de sobrevivência. As reformas que o país necessitava ficaram para segundo plano? Será assim até o final de seu mandato em 2018?
Azedo: Há uma necessidade objetiva em relação ás reformas, da Previdência, inclusive. As dificuldades para fazê-las variam de acordo com o grau de interesses contrariados dos estamentos superiores da sociedade, principalmente das corporações do chamado “poder instalado” e da elite política. Reformas que atingem de forma generalizada o povão são mais fáceis de serem aprovadas, porque não existe um loby concentrado no Congresso contra elas. Por exemplo, que as políticas públicas de saúde e a educação sofrem diversos lobbies, os mais fortes são das empresas de seguro, laboratórios, de um lado, grandes redes de ensino e grandes editoras, de outro; quem depende na educação e da saúde pública, porém, não têm meios de defender seus interesses no Congresso com a mesma eficiência. É preciso que partidos comprometidos com o bem comum, como o PPS, o façam. Quanto mais concentrado o interesse, mais eficiente é o lobby; quando mais difuso, mas difícil defendê-los. Veja a eficiência dos ruralistas e da bancada da bala!
FAP: Você acredita que para 2018 poderemos ter algum nome, de fato, que realize as mudanças que o Brasil necessita?
Azedo: Lula e Bolsonaro exploram o metro recíproco da sociedade, é quase uma estratégia combinada, boa para ambos chegarem ao segundo turno. Mas não acho que isso vá acontecer. O medo de retrocesso, seja em relação ao populismo, seja em relação à democracia, predominará. O problema é que ambos estão se fortalecendo à sombra das denúncias contra o governo Temer e o envolvimento de seus principais integrantes em escândalos, inclusive o próprio presidente. A grande ironia é que a antiga oposição, que agora faz parte do sistema de poder instalado a partir do Palácio do Planalto, não somente perdeu o discurso da ética, como se coloca agora contra a Lava-jato, o que é um desastre. Por essa razão, o nome capaz de criar um novo polo e rearticular o chamado centro democrático precisa ter mais identidade com os anseios da sociedade, ou, se articular coma a oposição que permaneceu nas redes sociais e não foi cooptada pelas estruturas viciadas de poder. Essa é minha opinião, por isso acho mais inteligente o PPS lançar a candidatura de Cristovam e buscar essa interlocução do que ficar defendendo um governo que se esgotou e está com a sobrevivência garantida até as eleições, apesar da impopularidade. No mínimo, qualificará o debate e criará um campo de atração para pessoas que desejam participar da política e renová-la num partido sério, que passou por todas as situações que o país já viveu, desde a República Velha e que não se furtou a enfrentar os novos desafios do mundo, tanto que mudou de nome e abandonou a foice e o martelo. Não haverá impeachment, nem golpe militar, por uma razão muito simples: a economia está melhorando e as eleições estão logo ali. Mas não devemos subestimar a crise ética, o governo Temer não vai se tornar popular, vai se arrastar até a posse do novo presidente eleito.
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